Tõe da Viola é um conhecido cordelista em Ipiaú e região. |
O Tonho, conforme se identifica ao assinar seus livros, no
meu entender não é muito apropriado para o pique de poeta nordestino, pois soa
assim meio mineiro, sulista ou coisa parecida. Lhe cabe bem melhor o Tõe , tão
comum na Bahia, farto no vale do Rio de Contas,intimo prá todos nós. A viola
que completa a denominação, não é bem seu instrumento de trabalho, mas o
auxilia na captura das trovas que lhe vem em rasgões de inspirações, impondo a
sua missão de resgatar nesta região a mais popular das literaturas. É pelo
cordel que Tõe tem sido reconhecido, estudado, homenageado, tornado ícone
cultural, referência em Itagibá e região. Antonio Carlos Alves Bonfim é
folclórico até na data do seu nascimento: 1º de Abril. Natural de Itagibá, 60 anos,
casado, quatro filhos, três netos, ( Irmão da conhecida Marlene de Paulo de Itagibá ) ele tem no palavreado a sua principal
característica. Tudo lhe é motivo de rima e de uma boa prosa.
Tudo lhe é motivo de rima e de uma boa prosa. |
Torcedor do Botafogo, morador da Vila de Japumerim, Tõe da
Viola sempre se identificou com o cordel. Foi pela vontade de ler as histórias
de Minelvino Francisco Silva, Rodolfo Coelho Cavalcante e João Lucas
Evangelista, dentre outros celebres poetas, inclusive Patativa do Assaré, que
ele se alfabetizou. “O cordel foi meu professor”, garante. A leitura dos
livretos lhe trouxe influências que eclodiriam no inicio da década de 1980,
quando, por sugestão do radialista Olisval
Santos, escreveu a respeito de uma cachaça com metanol que matou algumas
pessoas no município de Dário Meira. Hoje sua produção já envolve quase 20
títulos que se tornaram fontes de pesquisas, objetos de estudos. Com apenas o
curso primário Tõe da Viola tem realizado palestras em universidades, mostrado
que também é professor. Algumas das suas obras tem cunho didático, relatam
fatos históricos, traçam aspectos geográficos.
Tõe exibe alguns dos seus cordéis. |
É no humor que o cordel de Tõe da Viola ganha mais força
folclórica. No folheto “A história de João Bufão”, ele apresenta o personagem
dizendo: “Filho de família humilde este
menino nasceu / O sol que estava brilhando, na hora se escondeu / Então o galo
cantou e a parteira se assombrou do peido que ele deu”. Em “Minha Terra, Minha Gente”, ele fala da
comunidade de Ipiaú, mesclando personalidades históricas, com tipos bem
populares: “ Êpa –Êpa e Muquiado, Joanito e Fura-Fura, Canarinho e Zé Leão, o Dren
aqui é figura /Lembro Gilberto Podão que na nossa seleção foi goleiro com
bravura”. No livreto “Japumerim: Fruta Pequena”, o cordelista prioriza
referências do prospero distrito de Itagibá: “Aqui tem o Charles Chaplin como maior atração. Restaurante de primeira
com Zé Wilson na direção/Serve de exemplo e referência para toda região”.
Em outro livreto (Drogas: uma escolha infeliz)Tõe alerta: “Nas escolas, por exemplo, é preciso ter cuidado porque sempre aparece
um traficante disfarçado/Pra seu filho viciar, droga de graça ele dá, já com
seu plano traçado”. O poeta também não se esqueceu da sua autobiografia. No
livro “Recordando a minha Infância”,ele lembra de brincadeiras: “ O banho no riachão, junto com meus irmãos
Edmundo, Tote e Zé/Outros meninos que ali moravam, também nos acompanhavam e
brincávamos de caré”.
Tõe está buscando inspiração para um novo cordel. |
Em reconhecimento ao amor de Tõe da Viola pelo município de
Ipiaú e a sua contribuição pela valorização da cultura local, a Câmara de
Vereadores, lhe concedeu o titulo de “Cidadão Ipiauense”. Isto muito lhe honra
e certamente será motivo de novas inspirações, pois o poeta professor tem muito
a ensinar. Ele não deixa por menos e retribui a gentileza com um recado rimado:
“mais uma vez tou feliz por Deus ter me
ajudado a concluir esta história? Espero ser do seu agrado/ pra mim mais uma
vitória, do amigo Tonho da Viola vai um abraço apertado”. (Giro/José Américo Castro).